Raiva, raiva e raiva

Por Aline Sampaio

Há um desenho muito fofinho chamado “Divertidamente” que faz a alegria da galera por aí. E o acho fantástico, porque o filme da Disney traz a importância dos sentimentos.

Recentemente, uma onda de positividade tóxica tem dominado conta do nosso mundinho! Pense positivo, não sinta raiva, não fique triste, acredite em coisas positivas e tudo virá, mas infelizmente a realidade da vida não é assim.

Existe um texto bem legal do psiquiatra Osvaldo Di Loreto, chamado de “Em defesa do meu direito de ser triste”. Nesse texto, ele fala da importância de termos sentimentos. Há um trecho que ele diz: “Sou muito agradecido à mãe natureza por ter me dado minha tristeza. É ela que me poupa de, alegremente, comemorar a perda de um amigo ou a perda dos dedos da mão. Ou ficar indiferente a isso. Bendita tristeza que não me permite ser absurdo em relação a tudo que me acontece vindo de externo a mim. Sou também grato a ela por me permitir ter um estado de espírito adequado à perda de ilusões. É muito aliviante poder estar triste quando constato não possuir, realisticamente, as virtudes que, ilusoriamente, eu me atribuía. Um fardo inútil que se deixa de carregar. E também, menor flagelação quando não correspondo às virtudes que não tenho”.

E ele continua: “Estou defendendo que a tristeza, apesar de dolorosa, é uma capacidade humana necessária, boa. E não, como habitualmente se acredita que, por ser dolorosa, é ruim. Ela é, mesmo, uma das mais infinitas variações da realidade externa ou à relação de cada um consigo mesmo. Numa palavra, permite adaptação. Creio mesmo que a tristeza exerce, na mente, funções protetoras, muito semelhantes às que exerce, no corpo, a dor.”

Acho esse texto fantástico, porque ele fala um pouco das vivências de nossos sentimentos, e por que devemos vivenciá-los.

Certa vez fui a esses programas de TV ao qual fui convidada e abordei alguns temas importantes, um deles é o dessas pessoas que estão em situações muito ruins e que são agradecidas o tempo todo. Há pessoas sorrindo e em grande sofrimento mental, tanto por alienação quanto por medo de dizer o que sentem para agradar aos outros.

Inclusive, o excesso de sentimentos pode trazer muitos problemas para o corpo. O excesso de alegria pode ser considerado euforia, um sintoma comum na Bipolaridade. Esse sintoma, inclusive, faz que a pessoa fique ligada em excesso, chegando a um ponto de desligar (desmaiar) por excesso de energia.

O site Infinity Pharma apresenta um conteúdo muito legal sobre isso! Ele explica por que é importante sentirmos raiva. Sim, o conteúdo traz que: "a raiva aciona o circuito de luta e fuga, que liga os sistemas nervoso central e periférico com o sistema endócrino. Assim, ficamos mais atentos, com as pupilas dilatadas. Há liberação de hormônios que elevam o batimento cardíaco e a frequência respiratória. O fluxo sanguíneo vai para os músculos, deixando-os tensos, como se prontos para correr ou atacar.". Inclusive, o texto explica que a falta de raiva pode trazer depressão e ansiedade.

Um texto do colunista Arthur Guerra, da revista Forbes, vai mais longe sobre a raiva: "Outro trabalho mostrou que a raiva também estimula a criatividade, mais do que a tristeza e estados de humor neutro. Mas vale uma ressalva: pessoas irritadas usam aquela energia para facilitar a produção criativa, mas isso as deixa cansadas mais rapidamente. É como se a chama da criatividade apagasse rápido demais. A raiva, quando bem dosada e bem manejada, é uma grande força motivadora. No ambiente de trabalho, pode contribuir para o batimento de metas, finalização de projetos, entre outras coisas. Mas, evidentemente, é importante analisar o contexto em que ela se manifesta e a forma pela qual ela se manifesta.".

Em entrevista para a CNN Brasil, a Dra. Brett Ford, professora associada de psicologia na Universidade de Toronto, no Canadá, salienta: “(As emoções,) na verdade, não foram feitas para durar muito. O objetivo delas é nos ajudar a gerenciar um momento específico em nosso ambiente.”.

Pensar só positivo não lhe traz presentes na vida, pensar só negativo não lhe traz coisas ruins. Todas as emoções são importantes, em cada período e instante na vida. Sentir nossas emoções nos ajuda a transformar a forma que vemos a vida. E todos nós temos o direito de viver tudo o que sentimos, independente do que outro pense ou nos faça acreditar.

Inclusive, se você quer entender mais disso, o filme “Divertidamente” é uma excelente pegada, tanto para adultos quanto para crianças. Vou disponibilizar aqui os trailers deles:

Referências

GUERRA, Arthur. A raiva também pode trazer benefícios. Forbes, 12 abr. 2022. Disponível em: https://forbes.com.br/colunas/2022/04/arthur-guerra-a-raiva-tambem-pode-te-trazer-beneficios/.

O que acontece com seu corpo quando você sente raiva. Infinity Pharma, 24 jan, 2020. Disponível em: https://www.infinitypharma.com.br/blog/o-que-acontece-quando-voce-sente-raiva/ .

HOLCOMBE, Madeline. Entenda por que a raiva é um sentimento importante para os humanos. CNN Brasil, 3 set. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/entenda-por-que-a-sentir-raiva-e-um-sentimento-importante-para-os-humanos/.

DI LORETO, Osvaldo D. Em defesa do meu direito de ser triste. Infanto – Revista de Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência. n. 5, 1997, p. 31-51. Disponível em: http://www.psiquiatriainfantil.com.br/revista/edicoes/Ed_05_1/in_12_07.pdf

Aline Sampaio

Psicóloga direcionada a Abordagem Centrada Pessoa e Jornalista apaixonada pela informação.