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Eu não conserto pessoas!



conserto pessoas

Por Aline Sampaio


Frequentemente, chegam ao meu consultório pais falando: “olha, ele precisa fazer isso”, “ele precisa dizer isso”, “ele precisa vivenciar isso”. Eu sempre fico assustada. Tenho a impressão de que as pessoas querem um manual e que precisam fazer um check-in de como a criança, o adolescente, o adulto, a pessoa precisa ser.


Tenho a impressão de que as pessoas têm receitas prontas do que elas precisam ser e do que outro precisa ser. Os motivos são muitos: precisar ser aceito, precisar diminuir a frustação, precisar tornar mais fácil o problema, etc.


É como se a pessoa fosse ou agisse de certa forma, ela poderia diminuir o problema. A impressão sempre é que as pessoas têm que, se houve um status quo, ter uma atitude, para que os problemas sejam menores. Sempre digo que há um controle em tudo isso, e não podemos controlar tudo.


Vi em algum lugar algo e decidi trazer aqui:



conserto pessoas
Fonte: EMS

Às vezes, não é sobre o outro, mas sobre como a gente se sente em relação ao outro. Como a gente vivencia nossos espaços e separa nosso eu do outro. É sobre as expectativas positivas e negativas que temos dos outros e de nós mesmos.


Aliás, sempre me pergunto: “você deseja que a pessoa seja você ou ela mesma?”.


As pessoas não veem os sofrimentos do outro, desejam dar respostas, oferecer soluções, ter algo que elas ganhem, e não respeitar espaços.


Eu sou psicóloga, eu não crio plano de ação para resultados. Meu trabalho não é sobre produtividade, metas ou encaixes, mas sobre o encontro que cada pessoa tem consigo mesma.


Eu não estou aqui para dar receitas, encontrar soluções, estou aqui para que cada pessoa se encontre, para amenizar sofrimentos, para que cada pessoa encontre sua própria solução. Sempre digo que o que vivo aqui são relacionamentos terapêuticos, em que há reciprocidade. Eu vivo você, vivo cliente, vivo terapia. Mas, na vida, é você que vai escolher o que é melhor para colocar em prática.


Muitas vezes em terapia, percebo que chegamos a uma certa conclusão, às vezes, até percebo que há medos das mudanças, sabotagens. Eu falo com carinho, às vezes também entrego. Mas eu não me frusto, não fico mal se o cliente não seguiu aquilo que chegamos à conclusão. A terapia não é sobre mim, é sobre o cliente. E para mim, toda dor é 1.000, pois quem sente é a pessoa, e não eu. Cada história tem o próprio sentido para si. Nunca menosprezo o que cada um pode sentir.


É claro que não sou perfeita. Isentona. Eu erro. Mas, ainda assim, sou humana.


Há pessoas que chegam, aqui, dizendo: “você precisa tirar minha dor de forma rápida, isso precisa acabar agora”, “nossa já estou tanto tempo falando e nada muda”. Eu me pergunto: será que eu posso fazer isso? Não, eu não posso, pois é você que precisa se autorizar a fazer isso. A autoridade de estar aqui e vivenciar não depende de mim, depende de você. Estou aqui como o Toddynho, seu companheiro de aventuras, clareando os caminhos, mas eu não os escolho.

Eu não vou dar receita de bolo de como as pessoas devem ser, não vou esconder segredos de quem você é, não vou dizer como cada um não pode ser, não vou fingir que sentimentos não existem para agradar pessoas, eu não vou falar o que as pessoas querem ouvir, eu vou ser real com você, vou dizer o que você é. E vou motivar, sim, as pessoas a irem conquistar seus sonhos, eu acredito que todo mundo pode ir ao céu se é sua escolha. Todo mundo pode fazer tudo o que deseja, basta entender seus processos. Não quero pessoas perfeitas, não quero pessoas anestesiadas nas minhas sessões, quero ver gente, pessoas reais.


Eu não troco óleo, eu não dou vacina, eu não dou remédio. Não fico vendo pontos negativos para melhorar a pessoa. Eu não estou competindo com a vida. Eu vejo condições invisíveis que tratam com a fala, com o falar do coração. Eu não acho que as pessoas precisam ser melhores. Eu acho que precisam ser elas.


Uma vez um professor disse que as questões mentais são invisíveis, não se diagnosticam com exames. Por isso, eu concluí logo que não vou consertar nada. Não existe ferida no cérebro para colocar o remédio e melhorar. Existe entender processos da vida.


Não estou aqui para lhe dizer o que acho certo ou errado, estou aqui para fazer você se aceitar, encontrar seu caminho. Fazer com que você goste de você. Fazer com que você tenha raiva, amor, ansiedade, tristeza, alegria. Estou aqui para que você seja um humano. Até porque, quando escondemos nossos latidos do coração, uma hora eles gritam. E normalmente vem com a ansiedade.


E dizem que, quando são as pessoas que escolhem, a chance de mudança é maior. Uau!


Não, eu não conserto pessoas. É elas que se consertam. E isso é mais bonito, porque eu sou só um guia, e elas são as estrelas.


Aline Sampaio

Psicóloga direcionada a Abordagem Centrada Pessoa e Jornalista apaixonada pela informação.

 
 
 

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© 2023 por Aline Sampaio.

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